sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

[Resenha] Uma Chama Entre As Cinzas #1: Uma Chama Entre as Cinzas

Título: Uma Chama Entre as Cinzas

Título original: An Ember in the Ashes

Autor: Sabaa Tahir 

Editora: Verus

Número de páginas: 432


Sinopse: Uma história épica e eletrizante sobre liberdade, coragem e esperança. Laia é uma escrava. Elias é um soldado. Nenhum dos dois é livre. No Império Marcial, a resposta para o desacato é a morte. Aqueles que não dão o próprio sangue pelo imperador arriscam perder as pessoas que amam e tudo que lhes é mais caro. É neste mundo brutal que Laia vive com os avós e o irmão mais velho. Eles não desafiam o Império, pois já viram o que acontece com quem se atreve a isso. Mas, quando o irmão de Laia é preso acusado de traição, ela é forçada a tomar uma atitude. Em troca da ajuda de rebeldes que prometem resgatar seu irmão, ela vai arriscar a própria vida para agir como espiã dentro da academia militar do Império. Ali, Laia conhece Elias, o melhor soldado da academia — e, secretamente, o mais relutante. O que Elias mais quer é se libertar da tirania que vem sendo treinado para aplicar. Logo ele e Laia percebem que a vida de ambos está interligada — e que suas escolhas podem mudar para sempre o destino do próprio Império.

Defina o livro com uma frase: Uma surpresa bem vinda no mundo de clichês.



Apesar das tantas experiências negativas com YA eu volto para o mesmo gênero . Marisa, você é retardada ou gosta de insistir em um gênero do qual você não é o público alvo?

Respondo essa pergunta com a seguinte frase: “Eu sou brasileira e não desisto nunca!”

Sabendo o que esperar em livros YA: clichês, romances, pouco ou nenhum desenvolvimento de personagens, narrativa rasa e sem embasamento e principalmente personagens infantilizados. Resolvi insistir nesse livro (claro  que rolou uma indicação da Key do Blog Skull Geek) e posso dizer que me surpreendi muito positivamente, uma vez que esse livro foge da grande maioria dos clichês citados – aleluia.


“Uma Chama Entre as Cinzas” trata-se de uma história com dois dos únicos clichês que amamos: império x rebeldes e o clássico imperador tirano. Claro, que tem mais alguns clichês bobos, porém eles estão envoltos por uma narrativa tão bem construída, e um universo com as pontas tão fechadas, que passam desapercebidos. Então se você tem ataques de fúria ao ler clichês, saiba que você pode ler esse livro tranquilamente (selo Phoenix de qualidade anti-clichês).

Este livro é narrado em terceira pessoa e apresenta capítulos alternados entre os dois protagonistas. De um lado temos Laia, uma erudita que, em um primeiro momento – mentira, por metade do livro mesmo – é covarde e basicamente um peso morto descartável. Porém, ao decorrer da narrativa e frente aos inúmeros obstáculos que ela deve vencer para sobreviver,amadurece e se torna uma personagem digna de uma torcida tão grande quanto a de um estádio de futebol cheio.

Os eruditos estão na base da pirâmide, vivendo em condições miseráveis. Eles são governados por um Imperador tirano que faz de tudo para tornar a vida deles ainda pior, e fora isso eles ainda devem servir os marciais, que os tratam como lixo dispensável.

“Izzat. É rei antigo, a língua falada pelos Eruditos antes de os Marciais invadirem e forçarem todos a falar serrano. Izzat significa muitas coisas. Força, honra, orgulho. Mas no último século passou a significar algo específico: liberdade.” (Página 44)

Apesar da miséria, Laia vivia uma vida relativamente tranquila com os avós maternos e o irmão. Porém, narrativas não são desenvolvidas apenas na alegria, por isso, um dia sua vida se encontra à nossa velha amiga desgraça e muda para sempre. Depois da visita da dona Desgraça, Laia, desesperada e completamente fodida, se vê obrigada a pedir ajuda às únicas pessoas que ajudariam uma erudita: a resistência rebelde. Porém eles não a ajudarão de graça, Laia terá que se provar útil a eles. Assim ela se passa por escrava e vai até a academia militar Blackcliff – nada mais, nada menos, que o ambiente mais bem vigiado de todo o reino – para espionar a temida Comandante, uma mulher cruel que mata quem quer que se atreva a lhe desafiar – leia-se desertores e, principalmente, escravos.


“A vida é feita de tantos momentos que não significam nada. Então, um dia, ocorre um único momento que define todos os segundos depois dele.” (Página 27)

Pelo outro lado temos Elias Veturius, um homem (ok que ele não é literalmente um adulto, mas depois de todas as merdas que ele enfrentou no treinamento, o mínimo que podemos chamar ele é de “homem”) que foi “escolhido” aos 6 anos, para ser treinado na academia mais brutal do exército: Blackcliff, onde apenas os melhores podem se tornar os soldados mais respeitados e temidos, os Máscaras.

“O campo de batalha é o meu templo. A ponta da espada é o meu sacerdote. A dança da morte é a minha reza. O golpe fatal é a minha libertação. Esse mantra foi tudo o que sempre precisei.” (Página 52)

Elias, que está prestes a se formar, passou por todos os mais terríveis desafios do treinamento, todas as punições, tormentas e privações, que visavam apenas uma coisa: formar soldados da mais alta patente, soldados que não questionam seus atos, apenas obedecem a fim de servir o império. Porém Elias não pensa igual a todos os outros, ele só busca uma coisa: liberdade. Mas olha só quem apareceu novamente? A dona Desgraça! Pois é, parece que o plano de Elias vai sair um pouco dos eixos...

Tendo isso em mente, é óbvio que o caminho de Laia e Elias, por mais distinto que seja, vai se cruzar em algum momento. De lados opostos porém com o mesmo objetivo, esses personagens deverão enfrentar diversos desafios, que exigirão o máximo de cada um, tudo para que possam ser livres. Claro que a trama não vai focar apenas nisso, ambos estarão envolvidos em uma batalha muito maior do que eles mesmos, batalha essa que definirá o destino de todo o reino.


“O medo pode ser bom, Laia. Pode te manter viva. Mas não deixe que ele a controle. Não deixe que ele semeie dúvidas em você. Quando o medo tomar conta de você, use a única coisa mais poderosa e mais indestrutível para combatê-lo: o seu espírito. O seu coração.” (Página 408)

“Uma Chama Entre as Cinzas” é o romance de estréia da autora e olha... Ela não poderia ter acertado mais. Esse livro trata de diversos temas delicados com total maestria e foge de padrões clichês como a protagonista loira de olhos azuis frágil que no final acaba com o machão (vou me decepcionar muito se nos próximos livros isso acontecer, ainda mais sem explicação, mas só de o romance não ter sido o foco da narrativa já me sinto realizada).

“Existem dois tipos de culpa – digo em voz baixa. – Aquele que é um fardo e aquele que lhe dá um propósito. Deixe que a sua culpa seja o combustível. Deixe que ela te lembre de quem você quer ser. Trace uma linha em sua mente e nunca mais a ultrapasse. Você tem uma alma. Ela foi ferida, mas está aí. Não deixe que tirem isso de você, Elias.” (Página 364)

Este é um livro com uma narrativa que não vai jogar um filtro cor de rosa em todas os eventos terríveis que acontecem no mundo real, Tahir explora a natureza humana de uma forma crua, porém delicada. Ela levanta diversas questões importantes que a maioria dos autores não tem coragem de abordar, ainda mais em livros YA, esses assuntos e até a própria construção dos personagens tornam esta história “jovem” em algo muito mais adulto e denso.

“Vai melhorar [...] Você jamais vai se esquecer deles, nem mesmo depois de anos. Mas um dia você vai passar um minuto inteiro sem sentir dor. Então uma hora. Depois um dia. É tudo o que você pode pedir, realmente. Você vai se curar. Eu prometo.” (Página 98)


Tahir cria personagens reais. Nada de pessoas que tem tudo de mão beijada, o que cada um conquista é com muito suor e sangue. Os personagens apresentam camadas e ninguém é totalmente bom ou mau. Aqui não há apenas branco e preto, mas sim escalas de cinza, sejam os protagonistas que só querem a liberdade, os rebeldes ou até mesmo os vilões, ninguém está sendo completamente sincero quanto a suas motivações e sentimentos, o que tornou essa leitura muito mais especial.

A narrativa apresenta uma linguagem fácil, com cenas bem descritas na medida do necessário (nada de se alongar demais com pontos sem importância), um mundo místico incrivelmente denso e diálogos e personagens bem construídos - cada personagem apresentado vai ter o seu papel na trama. Vale ressaltar também que a autora apresenta mulheres fortes e que conseguem sim criar laços de amizade (viu Sarah J. Maas, aprende ai).

No geral, este livro entrou para a lista de melhores leituras de 2016 (confira o post aqui) por se tratar de uma pérola no mar dos clichês. E se você procura uma leitura que apresente personagens femeninas fortes, diversidade racial, desenvolvimento real de personagens, universo místico muito bem embasado este livro é para você.

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