sexta-feira, 17 de março de 2017

[Resenha] Bom dia, Verônica

Título: Bom dia, Verônica

Autora: Andrea Killmore

Editora: Darksidebooks

Número de páginas: 256

Skoob: Adicione a sua estante

Sinopse: Em "Bom dia, Verônica", acompanhamos a secretária da polícia Verônica Torres, que, na mesma semana, presencia de forma chocante o suicídio de uma jovem e recebe uma ligação anônima de uma mulher desesperada clamando por sua vida. Com sua habilidade e sua determinação, ela vê a oportunidade que sempre quis para mostrar sua competência investigativa e decide mergulhar sozinha nos dois casos. No entanto, essas investigações teoricamente simples se tornam verdadeiros redemoinhos e colocam Verônica diante do lado mais sombrio do homem, em que um mundo perverso e irreal precisa ser confrontado. Andrea Killmore compõe thrillers como os grandes mestres, e sua experiência de vida confere uma autenticidade que poucas vezes encontramos em suspenses policiais, vibrante e cruel — como a realidade.

Defina o livro com uma frase: Pimenta no cú dos outros é refresco...


“Bom dia, Verônica” é o romance de estréia da misteriosa Andrea Killmore. Uma das novas apostas nacionais da editora Darkside Books. “Andrea” em outra vida foi uma mulher muito importante dentro da polícia até trabalhar em um caso que tirou tudo dela, obrigando-a a desaparecer do mundo e assumir uma nova identidade. Muito pouco é conhecido sobre a sua vida, o pouco que ela deixa transparecer para o mundo é o seu forte senso de justiça e o amor pela literatura. Por usar um pseudônimo, apenas o seu advogado conhece quem ela é realmente, inclusive ele é que mantém o contato direto com a Darkside Books. Jogada de marketing ou realidade? Não sei quanto a vocês, mas eu escolho acreditar em Killmore. Apenas quem já perdeu alguém sabe o quão doloroso isso pode ser, adicionem a soma um sistema policial corrupto, acho que desaparecer pode ser a única alternativa... Descobrir mais sobre Andrea Killmore pode trazer conseqüências inimagináveis. Apesar do perigo, a caveirinha fez uma entrevista com a autora, onde ela responde algumas perguntas feitas por fãs. Clique aqui se tiver coragem...

Neste thriller policial conheceremos Verônica, uma mulher casada, mãe de dois filhos e secretária da polícia militar. Apesar de ser formada em uma área completamente diferente, prestou concurso público para a PM e se tornou escrivã, se estacionando no cargo de secretária para um delegado machista e babaca do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Porém ela não é apenas uma secretária, devido a sua posição, ela não é muito levada a sério, tornando-se até invisível, o que faz com que ela tenha livre acesso as informações dos mais diversos casos. Verônica é o tipo de pessoa que não tem medo de quebrar as regras para chegar a verdade.


Tudo é normal até aquela manhã de segunda-feira quando Marta Campos entra (e sai) de sua vida. Após o seu suicídio totalmente inesperado dentro da própria delegacia, Verônica se sente culpada pela maneira com que Marta é “engavetada” e resolve descobrir ela mesma o que a impulsionou ao suicídio.

“Era o primeiro dia do fim da minha vida.” (Página 11)

Como se não bastasse um mistério, que tal mais um? Janete é uma dona de casa ultra dedicada que sofre abusos físicos e psicológicos do seu marido, que para piorar é um policial civil, o que significa que ninguém acreditaria nela se ela contasse os abusos que sofre – sabemos o quão difícil é alguém acreditar em uma mulher em uma situação de abuso, não é mesmo? Como se isso não bastasse, ela ainda é obrigada a ser cúmplice do marido nas piores perversões, talvez sendo motivada por uma dose de síndrome de Estocolmo ou a esperança que o marido seja “curado” de suas perversões.

“Deus devia ser mesmo muito cruel para criar um ser humano assim.” (Página 147)

Apesar da doutrina abusiva, Janete finalmente vence o medo e entra em contato com Verônica, que imediatamente se solidariza com a situação, fazendo o possível – e impossível – para fazer com que Brandão pague por seus crimes e que Janete e outras mulheres sejam salvas das garras do canalha.

Apesar do abuso e do cabresto, Janete é uma mulher forte que quer se libertar de Brandão, ao mesmo tempo que ainda acredita que exista bondade no desgraçado. Afastada de todos os familiares e amigos devido ao marido, que a mantém em um verdadeiro cativeiro, ela não tem a quem desabafar ou recorrer, ainda mais pela sociedade acreditar que eles vivem em um lar perfeito e repleto de amor...


Voltando á Verônica: ela é uma mulher complicada... Até 2/3 do livro eu estava amando tudo nela, admirando-a pela sua coragem e determinação de chegar á verdade. Ela é uma pessoal real, com dilemas, dúvidas e problemas, porém com um coração que, apesar de ser meio perturbado, é bom e quer que a justiça seja feita.

Ela tenta manter em equilíbrio sua vida profissional e pessoal, porém tudo está caindo aos pedaços. Todos esperam dela muito mais do que ela pode, e quer, dar. Já conversamos sobre isso na #SemanaGirlPower (link para os posts aqui), mas criar os filhos e manter uma casa não é tarefa exclusiva de uma mulher. Ainda mais alguém que aparenta ter sido “obrigada” a constituir uma família. Digo isso não porque Verônica seja fria ou distante, mas porque a sua real vocação é o seu trabalho, é ajudar ao próximo. E isso acabou sendo encoberto e desviado com essa família. Pode parecer cruel da minha parte dizer isso, mas foi a sensação que esse livro me passou. Não é que ela não ame os filhos e o marido, ela simplesmente se sente realmente viva quando está trabalhando e fazendo a diferença no mundo.

“As mentiras... bem, as mentiras só serviam para manter tudo no seu devido lugar.” (Página 33)

Por mais que ela ame fazer a diferença, devido ao meio em que ela trabalha, é óbvio, que ela seria alvo do machismo. Afinal onde já se viu uma policial mulher? Ainda mais uma que é a secretária... Começando por seu chefe Carvana, que é o perfeito bosta, e indo até os seus colegas de trabalho que fingem que ela não existe.

“Bom dia, Verônica” é um livro maravilhoso (de uma forma um tanto terrível, levando-se em conta o assunto tratado aqui), é um suspense muito bem construído com uma linguagem rápida, dinâmica e viciante. Ao mesmo tempo em que apresenta suas doses de diversão, mostra a crueldade humana, faz uma crítica ao machismo e a polícia, apresenta mulheres que sofrearam abusos, mas que lutam para sair do buraco e mostra que a vingança é um prato que se deve comer frio, porém não congelado – anotem essa lição crianças, ela é extremamente importante!

“Nessa porra de país escroto, fazer tudo direitinho nunca foi garantia de final feliz.” (Página 148)

Este livro só não foi cinco estrelas devido a dois pontos: O primeiro é a mudança na personalidade de Verônica. Antes, ela era uma mulher corajosa e decidida, que enfrentaria qualquer pessoa de frente para atingir seus objetivos. Porém algumas coisas acontecem e ela se torna uma pessoa covarde, desistindo de si mesma. Também me incomodei com a personalidade “machão” dela, presente em alguns momentos. Uma protagonista feminina forte não precisa ser igual uma mulher com atitudes masculinas. O que eu quero dizer com isso? Ela assume uma postura que esperamos em um protagonista “machão clichê” e isso, infelizmente, tirou um pouco do meu amor por este livro...

Não é que eu esteja falando que as mulheres não possam ter relações sexuais com quem elas queiram. Foi a forma que isso foi desenvolvido. Verônica trata os homens diminuindo-os e, de certa forma, objetificando-os – justamente o que acontece com tantas mulheres – não acredito que essa seja a forma correta de retratar alguém. Se para ser igual, devemos diminuir alguém, então acho que estamos no caminho errado. Afinal feminismo significa igualdade.

Outro ponto que me incomodou com relação á Verônica foi um spoiler que acontece mais para o final do livro. Imaginem da seguinte forma: eu adoro fechar retrovisores, vivo fazendo isso escondido apesar de saber que é errado. A descarga de adrenalina que isso me dá é viciante. Um belo dia estou caminhando pelo estacionamento até o meu carro e olhem só, alguém fechou meu retrovisor. Qual é a reação esperada nesse caso? Simplesmente abro o retrovisor e sigo com a minha vida, já que era de se esperar que um dia isso acontecesse comigo, ou fico puta e destruo o meu carro?

Analogias a parte, acho bem tosco você fazer uma coisa errada e se descontrolar quando isso acontece com você. Olho por olho... isso ia acontecer um dia ou outro, afinal o mundo é redondo e dá voltas.


Achei o final inesperado, não sei se de uma forma boa ou não... Lendo esse livro não acreditava que a personalidade da Verônica a faria tomar uma atitude dessas mas creio que isso se encaixou muito bem com a história que a própria Killmore deixou transparecer.

No geral este é um livro a ser lido quando você tem tempo para se dedicar exclusivamente a ele, não por ser uma leitura densa, mas pelo fato de que você não vai conseguir largá-lo até ter terminado. E quando você chegar ao fim vai sentir que o mundo precisa de mais pessoas como Verônica.

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