sexta-feira, 9 de junho de 2017

[Resenha] Mulheres Perigosas

“Durma agora... Minha... minha querida... Enxugue as lágrimas. A escuridão nos cerca, mas um dia... Iremos acordar.” (Página 303)


“Mulheres Perigosas” é uma coletânea de contos organizada por George R. R. Martin e Gardner Dozois. Este livro apresenta 21 contos dos mais renomados autores – e alguns que não ouvimos falar com tanta frequência assim – que abordam os mais diversos gêneros literários, o que da um tom refrescante a um livro com 736 páginas.




“Aqui você não encontrará vítimas desamparadas que choramingam de medo enquanto o mocinho combate o monstro ou luta contra o vilão, e, se quiser amarrar essas mulheres a trilhos de trem, terá pela frente uma boa luta. Em vez disso você encontrará guerreiras brandindo espadas; intrépidas pilotos de caça e espaçonautas de longo curso; assassinas em série letais; super-heróinas formidáveis; mulheres fatais maliciosas e sedutoras; senhoras da magia; meninas más criadas na dureza; bandoleiras e rebeldes; sobreviventes endurecidas em futuros pós-apocalípticos; investigadoras particulares; duras juízas de pena capital; rainhas orgulhosas que comandam nações e cujos ciúme e ambições mandam milhares para mortes horrendas; cavaleiras de dragões ousadas e muito mais.” (Página 9)

O intuito desse livro era falar sobre mulheres poderosas, perigosas, heroínas e vilãs, porém não foi bem isso que aconteceu...

Eu não sei qual era o propósito desse livro, se era para empoderar mulheres ou apenas para usá-las como tema ou um objeto de “inspiração” – posso chamar isso de inspiração?

Ao contrário do que se era de esperar em um livro com essa temática, são poucas as autoras femininas que escrevem sobre mulheres. A esmagadora maioria é composta de autores que escrevem sobre protagonistas homens e daí láaaaaa na frente tem uma mulher que é usada como artifício para que o conto esteja “apto” a entrar nessa coletânea – o que na maioria das vezes, não fez sentido nenhum.

“O mundo era um valentão malvado, tudo bem, e quanto mais por baixo você estava, mais ele gostava de chutar você.” (Página 27)


Não é que eu não tenha gostado desse livro, mas ele é inconsistente. Existem contos muito bons, mais ou menos, meh e aquela porcentagem da escuridão que não fez o menor sentido – e que sim, eu pulei.

Esses contos sem sentido me fizeram sentir burra. Será que eu sou tapada demais para entender o sentido por trás das palavras ou o conto simplesmente foi mal escrito? Fica a dúvida no ar – leia e descubra por si mesmo:)

“Está surpreso? Vocês mantém suas mulheres confinadas e negam a elas qualquer tipo de atividade significativa. Fico surpresa que não enlouqueçam mais mulheres. Vocês não lhes dão nada para pensar ou do que falar além de família e fofocas. Nunca as deixam fazer nada além de planejar ou comparecer a festas, administrar casas e criar filhos.” (Página 97)

Um dos pontos que me incomodou foi a recorrente utilização de personagens de outras séries de alguns autores. Por um lado é muito interessante para os fãs terem um gostinho a mais desses universos. Por outro, para quem nunca leu nada desses autores, fica confuso e dá a impressão de que entramos em um trem em movimento. Apesar disso, esse livro é ótimo se você quer conhecer a escrita de um dos 21 autores sem se comprometer com um romance maior.

Vamos causar um pouco de polêmica: Por que será que eu tenho a impressão de que tudo tenha o selo do titio George R. R. Martin será uma venda instantânea, não importa a qualidade? – Wild Cards está aí para provar isso (apesar de eu ter gostado muito do conto da Caroline Spector, “Mentiras que Minha Mãe Contou”.

“Algo feio em algum lugar bem no fundo de mim exibiu suas garras e ficou tenso [...] Todos têm isso dentro de si, em algum lugar. É necessário que aconteçam coisas muito horríveis para despertar esse tipo de selvageria, mas está dentro de todos nós. É a parte de nós que causa atrocidades sem sentido, que transforma a guerra num inferno.” (Página 119)


Uma das coisas que mais me incomodou foi a diminuição das personagens. Claro, isso não acontece em todos os contos, porém temos a nossa dose de personagens que estão lá apenas como parte da decoração e ainda aquelas que são usadas como objetos sexuais sem nenhuma mensagem a ser assimilada. Será que todos os autores entenderam plenamente o objetivo desse livro?

De longe o meu conto favorito foi “Sombras nas Florestas do Inferno” do queridinho Brandon Sanderson e o que eu menos gostei (na verdade que eu nem li inteiro), foi “Virgens” da Diana Gabaldon, afinal trata-se das peripécias de Jamie Fraser antes dos acontecimentos de “Outlander”. Diana querida, você sabe que o objetivo era falar sobre mulheres, né?

Meus contos favoritos, sem nenhuma ordem específica – tirando o de Brandon Sanderson que ocupa o primeiro lugar – foram: “As Mãos que Não Estão Lá” de Melinda M. Snodgrass, “Explosivas” de Jim Butcher (que pode ser considerado um baita spoiler para os fãs da série “Dresden Files”), “Raisa Stepanova” de Carrie Vaughn, “Vizinhos” de Megan Lindholm  e “Segundo Arabesque, Muito Lentamente” de Nancy Kress. Coincidentemente a maioria dos contos que eu gostei foram escritos por mulheres, curioso não?

Outra coisa que me incomodou em algumas passagens foi a tradução. Existem algumas frases em inglês que foram traduzidas para o português e ficaram um pouco “bobas”.  Um exemplo idiota e que não aconteceu aqui, mas que eu acho que ilustra bem, é uma palavra que apareceu em alguns dos livros de “Harry Potter” da autora J. K. Rowling, onde brainstorming foi traduzido para “tempestade cerebral”. Ao pé da letra significa isso mesmo.  Porém ,dá um certo desgosto de ler, ainda mais que nesse caso essa palavra, assim como tantas outras, é utilizada em sua língua original por nós, mamíferos brasileiros.

No geral eu esperava bem mais desse livro, ainda mais por ter lido recentemente “Sejamos Todos Feministas” da rainha Chimamanda Ngozi Adichie. Esperava que os contos apresentados fossem mais nivelados, ainda mais por ter tantos nomes de peso, e que fossem exemplos da força feminina, não que as mulheres fossem coadjuvantes mequetrefes.

No final das contas, se eu fosse a editora de “Mulheres Perigosas” e pudesse cortar os contos que destoassem do foco, esse livro não teria quase 800 páginas – talvez não chegasse nem a 400...

Editores: George R. R. Martin e Gardner Dozois
Editora: LeYa
Número de páginas: 736
Classificação: ★★★/

Nenhum comentário:

Postar um comentário