segunda-feira, 19 de junho de 2017

[Resenha?] Zona Morta

"Noventa e cinco por cento das pessoas que caminham pela terra são simplesmente inertes. Um por cento são santos, e um por cento são idiotas. Os outros três por cento são pessoas que fazem o que dizem que podem fazer."


Serei assassinado depois dessa, portanto, farei um texto rápido para poder aproveitar melhor a vida que me resta (às autoridades: procurem por fãs de Stephen King). 

Como você provavelmente já percebeu, não rasgarei seda nem para o livro nem para o autor, como é de praxe nos textos sobre ele. Esse foi o primeiro livro que li desse autor e não gostei muito. Aparentemente este é um de seus trabalhos mais aclamados, portanto creio que não seja um autor com o qual criarei algum vínculo no futuro. Mas isso não quer dizer que achei tudo o que li detestável (eu terminei o livro, cacete), só o achei problemático em alguns aspectos que tentarei expor aqui. Se você está lendo esse texto, possui acesso à internet, então não vou colocar sinopse da trama. Ao invés disso vou direto ao assunto.

A impressão que ficou para mim foi a de que Stephen King, ainda que tenha desenvolvido uma trama muito criativa e instigante, acaba pesando a mão em todos os elementos errados ao passo em que tudo o que é interessante sobre a trama vai ficando em segundo plano e só é retomado em momentos específicos e sem muito retorno dramático. A ideia do coma é brilhante e a maneira como ele trata isso é bem satisfatória: o protagonista que acorda 4 anos depois de um acidente para descobrir que todos os alicerces de sua vida foram destruídos. Por cima disso, seu retorno é marcado por uma habilidade paranormal que, além de lhe sugar a vitalidade aos poucos, afasta as pessoas dele, seja por medo ou repulsa. E como se não bastasse, esse dom paranormal não é necessariamente controlável, fazendo com que, uma hora ou outra, todos descubram esse lado do protagonista. A maneira como John Smith tenta fugir de sua natureza, como tenta recompor sua vida pregressa, a maneira como esses fantasmas do passado retornam a todo momento e como as coisas vão se amarrando até o final são todas características centrais da obra e, sem dúvida, representam um ponto alto da obra. Mas não é aí que mora o problema.

“Zona Morta” é um livro com problemas de ritmo. Há muitíssimos momentos contemplativos em que nada acontece, em que a trama simplesmente não anda. Uma coisa é retratar o personagem conjecturando sobre questões relevantes à história, outra é colocá-lo pensando sobre assuntos marginais ou perdendo tempo com questões que não são relevantes nem para ele. Introduz-se um personagem absolutamente marginal, como um dono de boteco, por exemplo, e gasta-se uma ou duas páginas (frente e verso), para contar a história de vida desse personagem que nunca mais aparecerá, pior do que isso, que não tem nem motivo narrativo para estar lá a não ser retratar a realidade. Esse é o problema. Stephen King tentou, a todo momento, contar uma história que se desenvolve em nosso mundo, uma vida de verdade, que se desenvolve da mesma maneira monótona e, para atingir esse efeito, ele insere informações absolutamente desnecessárias que não fazem nada pelo livro a não ser engordá-lo. O fato dele ter conseguido transformar a história de um detetive paranormal em algo arrastado e maçante é digna de prêmio.

E não me leve a mal. Os momentos onde as coisas acontecem são muito bons. O problema é que as coisas não acontecem nunca ou, quando acontecem, tem um retorno broxante – como é o caso do final da primeira parte. Li a série Harry Potter em um mês. Li "Zona Morta" em dois. Porra, é um livro de 389 páginas! Isso só para mostrar o quão monótona é esse livro. O quanto seu potencial foi desperdiçado em nome de uma estética que nem pertence à literatura. A graça da arte é que ela não é igual a vida, né?

Não desisti do autor, mas vou demorar para retornar a ele. Fica um sentimento de decepção e uma primeira impressão bem negativa sobre o autor. Será que ele é superestimado???????? Assistam ao filme do Christopher Walken e corram pro abraço!

Autor: Stephen King
Editora: Círculo do Livro
Número de páginas: 390
Classificação: /

Nenhum comentário:

Postar um comentário