Tudo começa quando uma jovem escritora entra em uma loja, buscando por uma poltrona que melhorasse sua dor nas costas. Ela conhece o carpinteiro, que começa a falar sobre a importância de uma poltrona correta, ah Junji Ito, como você pode ter uma mente tão maldita? <3
Ele conta que existem poltronas capazes
de mudar o destino de quem sentasse nela, como, por exemplo, uma renomada
escritora do período Taisho (período durante o reinado do Imperador Taisho, que
durou de 1912-1926), Togawa Yoshiko.
Sua vida muda no dia em que ela recebe
uma carta contendo um manuscrito – em forma de confissão? – sobre um
carpinteiro que era apaixonado por uma mulher, por isso ele fabricou uma
poltrona com um esconderijo dentro, para que ele sempre estivesse perto dela – vamos
combinar que isso é outro nível de stalker.
As coisas começam a ficar cada vez mais estranhas quando ela percebe certa
semelhança da poltrona do manuscrito com a sua própria poltrona...
“A
Cadeira Humana” foi o meu primeiro
contato com Junji Ito, e apesar do mangá se tratar de um one shot, agora posso falar que compreendo todos que elogiam o
autor por sua capacidade de fazer com que nos sintamos mal lendo suas obras.
Com a junção de uma narrativa simples –
e no caso desta história, que não envolve o sobrenatural – e uma arte que
consegue capturar todas as emoções dos personagens, principalmente o desespero
e o nojo. Junji Ito desperta a pulga da paranóia, que dormia em um canto escuro
de nossas mentes.
Será que estamos sendo observados constantemente?
Com o avanço da tecnologia esta resposta é bem óbvia. Mas será que todas as
essas câmeras que nos filmam todos os dias, também podem servir para nutrir
algo mais sombrio?
Já vi muita gente falar que “essa
história de stalkear é pura burrice, se fosse comigo...” é muito fácil falar
o que você faria em uma situação dessas. A verdadeira questão é realmente se colocar no lugar dessas
pessoas, tanto quem sofre, quanto quem pratica.
Uma pessoa que é perseguida, no nível
que for, deixa de viver a sua vida com medo de estar sendo constantemente
observada. O ato de perseguir, ou stalkear
para os íntimos, apresenta alguns estágios – claro, que isso não está bem
definido e varia de pessoa para pessoa –
sendo que o gatilho para que isso comece são as tentativas frustradas de manter
contato, como por exemplo, sair com a “pessoa de interesse”.
Após o gatilho, começa o segundo
estágio, onde o stalker passa a
coletar informações sobre a vítima e a continua tentando estabelecer alguma
forma de contato, seja diretamente, tentando conversar com a pessoa, ou
indiretamente, mandando presentes que provem o seu “amor”.
Após este estágio começa a fase em que
fica óbvio que se trata de uma verdadeira perseguição, onde o stalker continua com suas tentativas de
contato, porém estes eventos agora envolvem ameaças e até agressão física, que
envolve coisas “simples” como ficar na sua frente, esbarrar, etc. Uma das
ameaças comuns é: “você vai se arrepender”.
Os próximos estágios envolvem ameaças
reais, de coisas que eles querem ou pretendem fazer com a vítima. Destruição de
objetos que pertençam à vítima. E a junção destes eventos culmina com a
agressão a própria vítima, ou a aqueles mais próximos dela, sequestro e até a
morte. Afinal se o stalker não pode
ficar com a vítima, então ninguém mais poderá.
“A
Cadeira Humana” nos faz pensar pelos
dois lados, tanto o terror sofrido pela vítima, quanto à necessidade de contato
e “amor” do staker. Essa ambiguidade
abre os olhos para as camadas envoltas neste tipo de situação.
Um stalker,
até certo ponto, só quer ser notado e amado, mesmo que isso envolva machucar a pessoa
de interesse. A questão é que este dito “amor” apenas reflete alguma carência
ou abuso sofrido pelo próprio stalker
que, por algum motivo, reflete isso em uma pessoa que não tem nada a ver com a
situação...
Autor: Junji Ito
Autor: Junji Ito
Editora: Shogakukan
Número de páginas: 30
Skoob: Adicione a sua estante
Classificação: ★★★★★/✰✰✰✰✰
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