terça-feira, 5 de dezembro de 2017

[Resenha] Salem

“O bem é escasso em cidadezinhas sedentárias. O que predomina é indiferença temperada com uma pitada de maldade inconsciente, ou pior, consciente.” (Página 139)



Como todo bom começo de livro, “Salem” começa sem fazer o menor sentido.

Acompanhamos a pacata Jerusalem’s Lot, uma pequena cidade no interior do Maine - é King? Então tem que ter Maine. Por se tratar de uma cidade de interior, forasteiros normalmente não são muito bem vistos e se destacam na multidão (de duas pessoas). A plácida cidade de Jerusalem’s Lot acaba de ganhar alguns novos moradores que prometem acabar com o marasmo do interior - e talvez acabar com outras coisas também… Coisas estranhas passam a acontecer a uma velocidade alarmante e ninguém estará a salvo da escuridão.


“Se ele sabia o que era a morte? Claro. Era quando os monstros te pegavam.” (Página 162)

O enredo se baseia na chegada desses forasteiros e como isso mudou Jerusalem’s Lot para sempre. E por se tratar da história de uma cidade, seremos introduzidos aos mais diversos tipos de moradores e cada um deles, apesar de não parecer, desempenha um papel importante na trama. Porém, esse excesso de personagens pode dificultar um pouco a leitura… Como são muitos nomes para decorar é inevitável se perder. Saiba que você não está sozinho e não se preocupe, os nomes dos personagens não vão ser um fator limitante na leitura. Você acaba lembrando deles por suas funções e, eventualmente, pelo nome - claro que eu confundia o nome de todo mundo e sempre que aparecia alguém que não dava as caras a algum tempo eu ficava achando que era um personagem novo… Fazer o que? Cuidado com a burra!

“Sozinho. Sim, é essa a palavra mais terrível de todas. “Assassinato” não chega aos pés, e “inferno” é apenas um sinônimo inferior.” (Página 227) 

Este livro, como todo livro do King, trata de assuntos graves. O ponto é que nenhum desses assuntos é o foco, eles passam entrelinhas e de relance, só se você prestar atenção irá entender a gravidade da realidade. King cria personagens imperfeitos, que possuem diversos problemas, defeitos e qualidades, e isso os torna extremamente reais. A forma com que os eventos culminam para alguns personagens é, no mínimo, justiça divina sendo feita. O que eu gosto muito na escrita do King é a forma com que a mesma mão que dá, tira - e ainda joga o dito cujo com a cara direto na lama. E é justamente esse sentimento de vingança “divina” que nos faz pensar no que é certo ou errado, e como toda ação tem uma consequência.


“Com o medo, vieram as lembranças, ameaçando partir o coração.” (Página 459)

Não sabia quase nada sobre “Salem” e me surpreendi com muito com a obra. Este livro faz com que você se afeiçoe aos personagens de um jeito parecido a “It - A Coisa”. King cria um background dos personagens tão completo que faz o leitor se sentir amigo íntimo do personagem, ou até mesmo fazer parte de sua própria consciência. 

Ao ler este livro é impossível não se lembrar de “Fright Night” (1985) e saber que o livro veio antes do filme desperta uma série de alertas. Quantas obras será que foram inspiradas em “Salem”

“A mesma batalha é travada noite após noite, e a única cura é a eventual ossificação da imaginação, que também se chama idade adulta.” (Página 269) 

Apesar de achar o destino de alguns personagens bem cruel, as coisas não poderiam ter sido diferentes. Terminei “Salem” com uma sensação de desolação e tristeza. Acabar um livro com personagens tão marcantes sempre evoca isso. Porém, a grande questão é que temos em mãos uma obra real. E muitas vezes a realidade é muito cruel, a vida é cruel. Todos os eventos caminham para o que acontece no final, e essa caminhada começa na primeira página de uma forma muito sutil.


“Esses eram os segredos da cidade. Alguns serão conhecidos um dia, outros nunca serão revelados. A cidade guardava a todos com uma suprema indiferença. A cidade zelava mais pelas obras do demônio do que pelas obras divinas ou humanas. Conhecia a escuridão. E a escuridão lhe bastava.” (Página 236)

Até tenho alguns pontos “negativos” com relação ao andamento do enredo, porém eles são spoilers, por isso resolvi deixar de fora dessa resenha. Se vocês quiserem saber minha opinião sobre algum aspecto mais profundo de “Salem” é só me mandar uma mensagem, vocês sabem onde me encontrar. 

“Mas, em torno dos moradores, a bestialidade da noite irrompe em asas tenebrosas. A hora do vampiro chegou.” (Página 371) 

Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Número de páginas: 464
Classificação: ★★★★★♥/✰✰✰✰✰

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