quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

[Diário de Leitura] Lovecraft - Medo Clássico (PARTE I)


Fiquei algum pensando como faria essa resenha. Por se tratar de uma coletânea, a melhor saída - na minha mente deturpada - seria um diário de leitura. Dessa maneira posso detalhar cada conto e tenho um espaço para dizer como a minha experiência de leitura está sendo. Optei por dividir esses posts em quatro partes: Sejam bem-vindos a parte I.

Começo esse post com polêmica *música do tv fama*: Ao ler os dois primeiros contos ainda não sei se eu gosto ou odeio Lovecraft - posso dizer que essa declaração será o único “spoiler” do dia.


O primeiro conto, “Dagon”, foi uma leitura recheada de expectativas que terminou abruptamente e com uma grande interrogação. Por se tratar de um conto curto ainda não consegui captar a essência lovecraftiana, mas já consegui ver um pouco da prolixidade que rodeia o nome Lovecraft.

“Há algo verdadeiramente perturbador em suas histórias, algo que conseguimos perceber, mas não definir. O autor nos envolve num jogo nada lúdico com o desconhecido, no qual seus personagens são joguetes que perdem a sanidade ao encarar um cosmos frio e impessoal, habitado por seres que a mente humana é incapaz de alcançar ou compreender.” (Página 11)

“Dagon” veio e foi sem me marcar. Por um lado achei interessante todo o mistério e dúvida que envolve a criatura. Por outro, achei que o conto ficou apenas nisso: um mistério sem pé nem cabeça. Talvez este conto não tenha sido a melhor escolha para abertura do livro, já que não somos introduzidos a nada do universo Lovecraft. As páginas vieram e se foram desaparecendo na noite...

“Depois de ter lido essas páginas mal rascunhadas, talvez você deduza, ainda que nunca saiba completamente, por que eu devo merecer esquecimento ou morte.” (Página 21)


“A Cidade sem Nome” começou muito bem. Porém, parece que ele se perde no meio do conto. Não se isso se deve a própria perda da sanidade do protagonista ou se simplesmente é uma característica da narrativa de Lovecraft - não fazer o menor sentido. 

Ao ler estes contos ficou claro que esta não será uma leitura fácil. Lovecraft apresenta vícios de linguagem que confundem o leitor: a excessividade no uso de adjetivos e narrativa prolixa - fora a linguagem formal que foi escrita em 1919...

Talvez o problema seja eu. Estou acostumada a ler livros que não requerem um alto nível de atenção, justamente por serem contemporâneos ou destinados a públicos mais jovens. De certa forma, esta leitura é um desafio. Preciso dar tempo a cada página, analisar as entrelinhas e mergulhar inteiramente na experiência.

Por um lado quero muito conhecer o autor que inspirou tantos outros autores, que por sinal eu amo. Por outro, isso me causa a maldita expectativa: “Eu preciso gostar desse livro porque é Lovecraft”, “Lovecraft é um clássico”, “Leitura obrigatória para fãs de terror”

Não é bem assim. Logo de cara já levei um soco no estômago pela construção narrativa não ser o que eu esperava. Vamos levar em consideração que eu fui bem ingênua, já que estamos falando de obras escritas no final do século XX por alguém que não começou a escrever para agradar ou captar leitores - Lovecraft diferentão.


Não é que eu não me interesse por Lovecraft, mas o que mais me atrai é o misticismo que envolve este nome. Será que todo o tão comentado cosmicismo responderá as minhas expectativas? Será que a leitora em mim ainda é muito imatura para ler uma obra desta magnitude? Será que por se tratar de algo fora da minha zona de conforto e carregar o selo “clássico”, eu mesma não estou criando barreiras onde não existe nada?

Após ler dois contos, o momento é de relaxar, respirar fundo, focar e mergulhar de cabeça em “Herbert West - Reanimator” - que por sinal se trata de uma obra que eu já conhecia, então por estar em terrenos anteriormente explorados talvez eu me sinta mais confortável, ou neste caso, desconfortável.


E então “Reanimator” chega e altera completamente o ritmo maçante e confuso dos dois últimos contos, aleluia! Originalmente, o conto foi dividido em seis partes, sendo publicado espaçadamente a partir de 1922, por isso a necessidade de recapitular a história a cada página. Esse pequeno detalhe, fez com que Lovecraft odiasse essa obra, se sentindo preso e delimitado como autor - irônico por ter sido a única obra que eu realmente gostei até o momento… Os famosos estudiosos de Lovecraft também dizem que esta é uma obra fraca, devido a simplicidade do enredo. Não acho que seja assim… Claro, este é o conto mais “pé no chão” até o momento, mas a “resolução” do problema abre portas para inúmeras possibilidades malditas.

“O caos de sons infernais não teria sido mais intolerável se o próprio poço dos infernos tivesse se aberto para libertar a agonia dos condenados, pois, concentrados em uma cacofonia inconcebível, estavam contidos todo o terror celeste e o desespero inatural da natureza animada.” (Página 57)

Finalmente temos um vislumbre grotesco do racismo de Lovecraft, que aliás foi pior do que eu imaginava. Ele não poupa palavras para escrotizar um ser humano e o trata como sendo algo saído dos confins do inferno… As notas do tradutor Ramon Mapa introduzem bem o leitor no que está por vir e servem de um complemento sensacional e extremamente imersivo - aliás, que introdução foda do caralho! <3


Um ponto que me animou (apesar de eu não ser nenhuma expert no assunto e conhecer apenas o básico do básico), foi a primeira menção à Universidade Miskatonic, em Arkham. Esse local amaldiçoado é um dos grandes pilares na mitologia lovecraftiana, então estou ansiosa por mais.

“Mas eu poderia não ter enlouquecido se aquelas malditas legiões das tumbas não fossem tão silenciosas.” (Página 87)

Após ler os três primeiros contos desta coletânea me sinto dividida: em parte não sei dizer se continuaria com a leitura, por ter achado a narrativa extremamente maçante e confusa. Por outro lado, me interessei por esse lado mais “contemporâneo” do autor e tenho sede por mais. Já sei que a tendência é voltarmos para os confins do bizarro e prolixo de Lovecraft. Porém, com a abertura das portas do cosmicismo, sinto que preciso dar mais alguns passos antes de despencar no poço do desespero e da insignificância. Ao mesmo tempo em que temo conhecer mais sobre a pessoa odiosa e intolerante que foi Howard Phillips Lovecraft. 

Continua no próximo episódio...


Autor: H. P. Lovecraft
Editora: Darksidebooks 
Número de páginas: 416
Classificação (até o momento): ★★★/✰✰✰✰✰

*Livro cedido gentilmente pela editora*

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