quarta-feira, 7 de março de 2018

[Resenha] {#SemanaGirlPower} A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil

“Há uma pessoa por aí com quem eu gostaria de falar. Não sei quem você é, mas sei que você tem um lance. Talvez você seja uma escritora, como eu.l Talvez cante, ou construa coisas, ou faça tortas. Qualquer que seja o seu lance, ele faz você saltitar, lhe dá uma sensação de propósito (ou talvez apenas um contentamento, o que é igualmente importante). Pode até mesmo ser uma coisa que você nunca tentou antes, mas que vem lhe dando puxões há algum tempo. É suficiente dizer que você tem um comichão, e precisa coçá-la. [...] Vá em frente. Realize seu lance. [...] Envie aquele manuscrito. Grave aquela canção. Monte aquela fantasia de cosplay. Faça a torta mais audaciosa de todos os tempos (e guarde um pedaço para mim, por favor). Realize seu lance. Ninguém mais pode realizá-lo por você. Eu posso não saber quem você é, mas sei que você é capaz de fazê-lo. Você conseguiu o seu sinal. Pegue-o e corra.” (Becky Chambers - março de 2015)



O grande foco de “A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil” não é a jornada em si, mas como essa jornada muda quem a está trilhando. Como precisamos analisar mais pontos de vista para poder criar uma imagem do todo. Como é importante olhar para dentro de si mesmo e se colocar no lugar dos outros. Este livro me ensinou tanto, que é até difícil botar em palavras a miríade de sentimentos que este livro evocou em mim.


A mensagem mais importante é o amor e a aceitação. Em uma galáxia repleta de tantos seres diferentes - e aqui eles não são só humanóides, temos nossa dose de criaturas completamente diferentes - não existem preconceitos, todos fazemos parte de uma enorme família intergaláctica bizarra.

“Eles fazem eu me sentir que nem… ai, como se chamam aqueles répteis feiosos que vocês tinham lá na Terra? Os extintos?”
“Hã…” Rosemary tentou se lembrar. “Não sei. Iguanas?”
“Nem sei o que é isso. Não estou falando dos que foram extintos no Colapso. Estou falando daqueles muito antigos, de milhões de anos atrás.”
“Dinossauros.” 
“Esses!” Sissix se agachou, encolhendo os braços e exagerando o ângulo das pernas levemente dobradas. Ela saiu pisando forte pela dispensa, de modo desajeitado.” (Página 197)


Eu não sabia o que esperar deste livro, e me surpreendi demais. Aos fãs mais “clássicos” de ficção científica, talvez “A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil” possa parecer tedioso - se você não tem alma. Porém, como já mencionei, este livro não é sobre a jornada em si, mas sobre quem a está trilhando e o que acontece quando se colocam seres completamente diferentes trancados em um espaço delimitado por um longo período.

Apesar de se passar em um futuro longínquo, os temas abordados aqui não poderiam ser mais atuais. Temos desconstruções de conceitos imbecis e preconceitos que são jogados na estratosfera de algum planeta remoto. Os próprios personagens passam por mudanças na forma com que eles enxergam os outros e a si mesmos. Sério… Não conseguiria abordar todos os aspectos fenomenais que Becky narra com maestria. Só para dar um gostinho do que está por vir - porque eu sei que você vai ler esse livro depois de terminar essa resenha:

Temos dilemas morais, ética relacionada às inteligências artificiais, perdas, preconceito, medo de não ser aceito, como as ações de nossos familiares não deveriam determinar quem somos, não ter um gênero fixo, controle da mente, liberdade sexual, clonagem, liberdade de escolha, modificações corporais, guerras, tolerância e mais tantos outros temas, isso tudo em um livro de 352 páginas, wow


“Mas acho que, em geral, as pessoas decidem passar por uma cirurgia antienvelhecimento porque têm baixa autoestima e sentem que não estão boas o suficiente com a aparência atual. Só que tudo que fiz com o meu corpo foi por amor. É sério. As tatuagens são uma recordação de vários lugares e lembranças específicas, mas, no fundo, tudo que fiz foi o meu jeito de dizer que este é o meu corpo. Que não quero o corpo que todos me diziam que eu deveria ter. [...] Nem fodendo. Se vou mudar o meu corpo, as mudanças têm que vir de mim.” (Página 56)

Os personagens criados por Becky são complexos, reais, conflitantes, curiosos. A forma com que eles lidam com as estranhezas de outras espécies é muito interessante e divertida. Mas o que mais me encantou é que em momento algum eles deixaram de lado quem eles são só para se encaixar. A tripulação da Andarilha, a família que compõe a nave, é como uma colcha de retalhos. Cada pedaço é completamente diferente do outro, porém todos se encaixam com total perfeição e aceitação.

Este livro foge completamente dos estereótipos e clichês. Temos tanta diversidade e representatividade que nem sei como minha vida vai ser depois desse livro. Só posso garantir uma coisa: meu gosto ficou muito mais crítico com relação a obras de ficção científica. Aliás, eu te desafio a ler este livro e depois qualquer outra obra de ficção científica sem comparar ambos. Isso porque eu nem vou começar a falar sobre ficções científicas misóginas e racistas. 


“Os humanos não sabem lidar com a guerra. Tudo que sei sobre a nossa história mostra que a guerra desperta o que há de pior em nós. Não temos… maturidade suficiente, ou algo assim. QUando começamos, não conseguimos parar. E já senti isso em mim, sabe, essa inclinação a agir por impulso quando estou com raiva. Não como as coisas que você viu. Não vou fingir que sei como é a guerra. Mas nós, humanos, temos algo perigoso dentro da gente. Quase nos destruímos por causa disso.” (Página 119)

Ao terminar este livro, me transportei para um lugar ideal, onde nada negativo existe, onde estou sentada em uma cadeira confortável banhada pela luz do pôr do sol e uma brisa suave, onde tudo é certo: meu lar.

Autor: Becky Chambers
Editora: Darksidebooks 
Número de páginas: 352
Classificação: ★★★★★/✰✰✰✰✰

***


Este post faz parte da #SemanaGirlPower. Uma semana dedicada inteiramente a apresentar trabalhos feitos por mulheres incríveis que mudaram nossas vidas. O intuito desta semana é dar visibilidade à presença da mulher em mídias variadas, em homenagem ao Dia da Mulher (8 de março) ♥ #LeiaMulheres

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