sexta-feira, 6 de abril de 2018

[Resenha] Fúria


“Fúria” foi o primeiro livro a ser escrito por King em 1966 quando ele tinha apenas 19 anos. E Isso explica a imaturidade narrativa. Originalmente publicano sobre o pseudônimo de Richard Bachman, “Fúria” é o infame livro banido do King.

Como se já não bastasse a temática polêmica, este livro foi proibido pelo próprio King, após uma série de tiroteios em escolas americanas. Acho muito fácil botar a culpa em uma obra de ficção, por mais que ela se assemelhe a realidade, ao invés de entender que a ficção é baseada na realidade. Sempre existiu e vai existir violência, e nem mesmo as escolas estão à salvo. Ainda mais se levarmos em questão o tamanho do problema que é o bullying.

Toda essa questão aconteceu após o livro ser encontrado dentro do armário do estudante Michael Carneal de 14 anos, responsável pelo tiroteio em Heath High School em 1997. Na época King temeu que o livro inspirasse mais tragédias, por isso ele o baniu das prateleiras e proibiu qualquer eventual republicação do livro.


Acho uma forma pífia querer culpar a literatura pelo surgimento de grandes tragédias. É a mesma coisa que dizer que se uma criança jogar um jogo violento, ela vai crescer e se tornar alguém violento… E, honestamente, acho que existem vários livros do King com temáticas muito mais pesadas do que “Fúria”...

Enfim, este livro me lembrou muito Battle Royale, mas eles não podiam ser mais diferentes. Onde há reações exageradas e justificáveis em “Battle Royale”, há completa apatia dos alunos da sala 16 em “Fúria”. Cada um reage de uma maneira, mas eu acho bem difícil de acreditar que ninguém sequer gritaria ao ver sua professora levar um tiro na cabeça. Pelo contrário, os colegas de Charlie agem com total naturalidade, como se estar sendo mantido como refém fosse uma situação do cotidiano.

O que eu abstrai dessa leitura? Que King escreve sobre um personagem que se deixou levar totalmente pela sua fúria adolescente. Sabe aqueles momentos em que desejamos que alguém morresse? Essa é a história sobre o que aconteceria se ouvíssemos essa voz nos dizendo para matar.

Não é um dos melhores livro do King. A narrativa é imatura e não há empatia por nenhum dos personagens. As situações narradas ao decorrer da história não são surpreendentes e muito menos justificam a alienação da sala e os atos de Charlie. 

Apesar da característica de sociopata/traumas na infância, não acredito que os “traumas” de Charlie tenham sido suficientes para servir de gatilho para a situação ilógica. Claro, não sou nenhuma psicóloga, mas achei que as justificativas apresentadas foram extremamente fracas...

Por um momento do livro eu até achei que Charlie estivesse controlando a mente dos seus colegas, tipo uma versão fodida do filme “A Onda”, onde há uma lavagem cerebral em massa que resultaria em uma carnificina. Porém, nada disso acontece…


Passamos o livro inteiro trancados com os outros 24 alunos da sala 16. E ouvimos Charlie expor suas motivações bizarras, o que foi extremamente claustrofóbico e agoniante. O mais terrível de tudo isso, é que a única pessoa que age com sanidade na sala se torna quem passamos a odiar mais. Eu não sei o que eu esperava do final deste livro, só posso dizer que todos somos atraídos por tragédias.

A escrita de Bachman é bem diferente da de King, sendo mais frenética e menos “cuidadosa”. Como esse foi meu primeiro livro do “autor”, não sei se isso se repete ou se ocorreu somente por ser o primeiro livro a ser escrito por King.

Fica claro que este livro foi escrito por um adolescente com raiva, que queria extravasar seu ódio e a inveja que ele sentia das pessoas mais afortunadas. Ler “Fúria” foi como ouvir os pensamentos mais deturpados de alguém aparentemente normal, foi como presenciar o âmago da maldade contida na mente de alguém.

Autor: Richard Bachman (Stephen King)
Editora:  Francisco Alves
Número de páginas: 138
Classificação: ★★/✰✰✰✰✰

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