segunda-feira, 6 de março de 2017

[Especial] {#SemanaGirlPower} Abertura + O que eu espero de uma protagonista feminina?


Boa tarde meu povooooo! É com grande alegria que venho lhes informar que a partir de hoje começa o #SemanaGirlPower, um projeto idealizado pela Keyla do Blog Skull Geek, a Denise do Embarcando na Leitura e a Raquel do Pipoca Musical e por essa que vos fala (uhul). Começando hoje (06/03) e se estendendo até sexta-feira (10/03), essa semana será recheada de posts e resenhas que envolvam mulheres (no final desse post tem os links para os posts delas, então não deixem de conferir).

Fiquei um tempo pensando em como começar essa semana e achei uma boa idéia começar com um pouco de polêmica, explicando o que eu acho que seja o movimento feminista e como ele se aplica na literatura. Claro que sempre vale ressaltar que eu não sou nenhuma expert em nenhum assunto, venho até vocês apenas para expor a minha opinião sobre alguns temas – todos tendo em comum a presença das mulheres na literatura.


Vocês já se perguntaram o que vocês esperam de uma protagonista feminina? Quais são as suas referências dessas mulheres? Acho difícil falar de protagonistas femininas sem mencionar as famigeradas princesas da Disney...

Nota: E então eles viveram felizes para sempre...

O que será que há de errado com a geração das princesas Disney? Parece meio óbvio, não? Se você nasceu entre as décadas de 40-90 (como você se sente ao saber que “Branca de Neve” foi lançado em 1937?) você provavelmente, assim como eu, cresceu assistindo os filmes da Disney. Inspirados em belas fábulas, são histórias sobre princesas inocentes, perdidas, injustiçadas e frágeis, que buscam um amor verdadeiro – claro que as histórias dos irmãos Grimm passam bem longe de serem belas, a menos que você seja um pouco mórbido.

Independente do rumo da história (que acabava sempre envolvendo o confronto com uma bruxa má), o que praticamente 99% desses filmes tem em comum é justamente a presença de uma protagonista dependente do príncipe no cavalo branco, já que ela é indefesa e não consegue nem respirar sozinha. Claro, tem toda aquela questão de no final o poder do instalove derrotar o mal e então eles viveram felizes para sempre – salve as raríssissimas exceções (posso contar a Mulan como uma exceção?).
 
“Ah, mas esses filmes são antigos... atualmente as coisas não são mais assim, fora que ninguém acha isso bonito...” Ah não? E quanto a “50 tons de cinza”? Cristian Gray é bonito, rico e poderoso, enquanto a Anastasia Steele é sem graça, atrapalhada e vive uma vida morna sem qualquer emoção. Quantas pessoas vocês conhecem que acham essa “história de amor” linda e sonham em viver algo do tipo? Não sei quanto a vocês, mas eu não acho lindo, muito menos desejável, um relacionamento com um cara que stalkeia, inferioriza e abusa física e psicologicamente de uma mulher – e não me venha com essa merda de “Ah, mas ela queria isso, afinal de contas ela assinou o contrato”, o foco não é o fato de ela ser uma retardada. Eu queria ver se “50 tons de cinza” continuaria sendo uma história de romance se o Sr.  Trauma de Infância fosse pobre ou feio. Mas claro, toda essa polêmica envolvendo a fanfic de crepúsculo é uma conversa para outra hora...

Chega a ser engraçado como se espera tanto dessa geração que cresceu assistindo filmes sobre essas princesas. Claro, isso não se aplica a todos os casos, mas muitas dessas garotas acabam de espelhando nesse amor irreal – mesmo que inconscientemente – e pensam que só poderiam ser felizes se fossem delicadas, imaculadas, frágeis e femininas – Atrelando-se ao fato de que, claro, essas mulheres precisam se casar com um homem viril, do tipo que iria sair para caçar enquanto elas ficam cuidando do lar.

Como se ter o seu cérebro lobotomizado pela Disney não fosse um grande problema, ainda temos as famílias dessas garotas. Quem nunca ouviu alguém falando algo do tipo: “Ai, como ela é linda, vai dar um trabaaalho...”, “Que menina prendada, está pronta para casar”, “Você precisa ser mais feminina, usar vestidos e se arrumar mais...”, “Isso não é uma atitude de menina.”, “Ai, mas futebol não é esporte de mulher, você tem que fazer ballet”, “Nossa você não sabe cozinhar? Desse jeito você nunca vai arranjar marido.”, “Você tem que casar só para não ficar para titia.”, “Nossa mas a fulana é tão masculina, credo...”, “Toda mulher precisa ter filhos, esse é o papel dela.”, “Isso não é emprego para mulher.”, entre tantos outros? Por mais que essas garotas fujam do clichê, ainda tem que lidar com as suas próprias famílias. Então por favor, menos cobrança... Vamos parar com essa idéia ridícula de que temos que cumprir as expectativas de outras pessoas, a vida é sua, o corpo é seu, os sonhos são seus, são suas consequências...

Mas afinal de contas o que é ser feminina? Segundo Simone de Beauvoir: “não se nasce mulher”. “Meu Deus, mas que absurdo!” parem para pensar um pouco... Obviamente ela não está falando de órgãos reprodutores, e sim do fato de que não existe nada na condição feminina que determine a sua função na sociedade ou muito menos imponha que ela é menos capacitada do que um homem (ou vice versa), a exercer qualquer função.

Nota: Simone de Beauvoir (1908-1986) foi uma escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social francesa, que ficou conhecida por seu tratado "O Segundo Sexo" (1949), uma análise detalhada da opressão das mulheres e um dos pilares fundamentais do feminismo contemporâneo. Muitas pessoas consideram ela uma das "mães do feminismo".

O que será que criou essa desigualdade se não as próprias mulheres e a sociedade? Para ser uma mulher “decente” ou uma “para se casar”, uma mulher jamais poderia sair à noite sozinha, tendo que se dedicar a hobbies que acrescentem algo ao seu currículo de escrava do lar. Ocupar cargos altos ou não ser a “provedora” do lar? HA HA HA que absurdo!

Até aonde eu sei (não sou nenhum gênio, mas sou formada em biomedicina), não existe nenhuma condição especial no cérebro de mulheres ou homens, que os capacite mais ou menos perante o outro. Ou seja, homens e mulheres possuem cérebros biologicamente semelhantes, o que significa que são capazes de exercer qualquer profissão de maneira igual - sei que isso pode ser um choque para algumas pessoas, mas é a realidade...

Porque uma menina deve ter brinquedos que remetam as futuras “obrigações do lar”, enquanto um menino pode brincar com o que ele bem entender, desde que claro, não diminua ou altere sua prestigiosa masculinidade? Essas meninas crescem acreditando que são meros “objetos” e que devem servir, de maneira subserviente, ao “sexo superior”, claro que sempre cuidado da aparência e sabendo se portar como uma “dama”.

Por que elas não podem brincar com carrinhos ou outros brinquedos que estimulem sua criatividade e aflorem suas aptidões, ao invés de treinarem seus futuros dotes? Por que temos que estar dentro dos padrões impostos pela sociedade, por sinal altamente machista, em que se destoar da maioria significa ser uma mulher sem escrúpulos? Nós mesmas nos colocamos nessa situação, ao aceitar entrar nestes padrões de “sexo frágil”.

Acima de tudo, por sermos todos seres humanos, o mínimo que podemos esperar é respeito. Por que uma mulher não pode ser respeitada no trabalho? Por que ela não pode andar na rua sem ser assediada?

O que eu gostaria de expor aqui é que: não é porque você resolveu não ter filhos, morar sozinha, não se casar, retirar os seios – devido a um milhão de motivos – já que isso também se tornou motivo para polêmica, raspar a cabeça, se tatuar, sair para beber, fazer alguma arte marcial, ter a profissão que você escolheu, enfim, “seguiu o seu coração”, como tanto falam nesses filmes da Disney, que você deixa de ser menos mulher ou se torna uma vagabunda. Você é a responsável pela sua própria felicidade. Você não precisa estar dentro dos “padrões nacionais da família”, o que realmente é importante é se realizar como pessoa, seja profissionalmente, socialmente, ou o diabo que seja.

Você merece direitos iguais, já que você é tão capaz quanto qualquer homem a ocupar qualquer cargo – mesmo que seja um cargo que exija força física – afinal de contas, somos todos iguais.

Tudo isso para levantar uma simples pergunta: O que você, eu, seu papagaio, a dona Maria, quem quer que seja, procura em uma protagonista feminina? Será que você espera que ela seja uma dondoca indefesa que espera seu “príncipe encantado”, ou que ela seja uma mulher a se inspirar? Quem você quer ser? Mulan ou a donzela presa na torre? Precisamos começar a nos espelhar em pessoas que valham à pena se inspirar, que transmitam algo de valor as nossas vidas e não em pessoas que nos diminuam perante a sociedade.

Nota: Por mais protagonistas como Beatrix Kiddo (Kill Bill Vol. 1 - 2003).

Um grande problema encontrado em personagens femininas é: ou ela é um vegetal ou a pica das galáxias. Que tal um meio termo? Não acho interessante uma personagem que não consegue levantar um saco de café, porém também acho meio forçado alguém que seja indestrutível e inabalável. Acima de todos os adjetivos possíveis, acho que buscamos alguém com que possamos nos identificar – claro que algo mais fantasioso também é super bem vindo, porém com suas ressalvas – e que possamos nos inspirar. Alguém que seja capaz de superar obstáculos, porém, ao mesmo tempo, que sinta dor e felicidade, que tenha as suas dúvidas quanto ao futuro e que até fique mais “forte” quando existe alguém para apoiá-la, e não levá-la nas costas.

Outro grande problema que encontramos na literatura é a ausência de amizades femininas, se já é difícil encontrar um livro com uma personagem feminina forte, imagine encontrar um em que ela não esteja rodeada de homens e tenha uma amizade com outras mulheres? Por que isso? Até parece que mulheres não conseguem nutrir nenhum outro sentimento além da inveja e competição pela atenção do Sr. Machão...


Encerro este post com a seguinte frase: Seja a mulher que você quer ser, não a que a sociedade espera que você seja. Afinal de contas, é impossível agradar a todos e no final do dia, quando você deitar a cabeça no travesseiro, você estará sozinha com a sua mais fiel amiga ou a pior inimiga, você mesma (espero que isso não tenha soado muito como um livro de auto-ajuda).

Nota: Encerro esse post com uma foto da luta da Cris Cyborg contra Leslie Smith só porque a Cyborg é FODA!!

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Semana Girl Power

Este post faz parte da #SemanaGirlPower realizada em parceria com blogs amigos com o intuito de apresentar trabalhos feitos por mulheres incríveis e dar visibilidade aos talentos femininos em mídias variadas em homenagem ao Dia da Mulher (8 de março). Para conferir o que os outros participantes do projeto estão fazendo, visite os links: Skull Geek - Pipoca Musical - Embarcando na Leitura - Night Phoenix Books



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