sexta-feira, 20 de outubro de 2017

{Outubro Trevoso} [Resenha] A Cadeira Humana


Tudo começa quando uma jovem escritora entra em uma loja, buscando por uma poltrona que melhorasse sua dor nas costas. Ela conhece o carpinteiro, que começa a falar sobre a importância de uma poltrona correta, ah Junji Ito, como você pode ter uma mente tão maldita? <3


Ele conta que existem poltronas capazes de mudar o destino de quem sentasse nela, como, por exemplo, uma renomada escritora do período Taisho (período durante o reinado do Imperador Taisho, que durou de 1912-1926), Togawa Yoshiko.

Sua vida muda no dia em que ela recebe uma carta contendo um manuscrito – em forma de confissão? – sobre um carpinteiro que era apaixonado por uma mulher, por isso ele fabricou uma poltrona com um esconderijo dentro, para que ele sempre estivesse perto dela – vamos combinar que isso é outro nível de stalker. As coisas começam a ficar cada vez mais estranhas quando ela percebe certa semelhança da poltrona do manuscrito com a sua própria poltrona...

“A Cadeira Humana” foi o meu primeiro contato com Junji Ito, e apesar do mangá se tratar de um one shot, agora posso falar que compreendo todos que elogiam o autor por sua capacidade de fazer com que nos sintamos mal lendo suas obras.

Com a junção de uma narrativa simples – e no caso desta história, que não envolve o sobrenatural – e uma arte que consegue capturar todas as emoções dos personagens, principalmente o desespero e o nojo. Junji Ito desperta a pulga da paranóia, que dormia em um canto escuro de nossas mentes.

Será que estamos sendo observados constantemente? Com o avanço da tecnologia esta resposta é bem óbvia. Mas será que todas as essas câmeras que nos filmam todos os dias, também podem servir para nutrir algo mais sombrio?

Já vi muita gente falar que “essa história de stalkear é pura burrice, se fosse comigo...” é muito fácil falar o que você faria em uma situação dessas. A verdadeira questão é realmente se colocar no lugar dessas pessoas, tanto quem sofre, quanto quem pratica.

Uma pessoa que é perseguida, no nível que for, deixa de viver a sua vida com medo de estar sendo constantemente observada. O ato de perseguir, ou stalkear para os íntimos, apresenta alguns estágios – claro, que isso não está bem definido e  varia de pessoa para pessoa – sendo que o gatilho para que isso comece são as tentativas frustradas de manter contato, como por exemplo, sair com a “pessoa de interesse”.

Após o gatilho, começa o segundo estágio, onde o stalker passa a coletar informações sobre a vítima e a continua tentando estabelecer alguma forma de contato, seja diretamente, tentando conversar com a pessoa, ou indiretamente, mandando presentes que provem o seu “amor”.

Após este estágio começa a fase em que fica óbvio que se trata de uma verdadeira perseguição, onde o stalker continua com suas tentativas de contato, porém estes eventos agora envolvem ameaças e até agressão física, que envolve coisas “simples” como ficar na sua frente, esbarrar, etc. Uma das ameaças comuns é: “você vai se arrepender”.

Os próximos estágios envolvem ameaças reais, de coisas que eles querem ou pretendem fazer com a vítima. Destruição de objetos que pertençam à vítima. E a junção destes eventos culmina com a agressão a própria vítima, ou a aqueles mais próximos dela, sequestro e até a morte. Afinal se o stalker não pode ficar com a vítima, então ninguém mais poderá.


Por outro lado, temos a pessoa que perpetua este tipo de abuso. O que leva alguém a se tornar tão obcecado por outra pessoa? Também acho interessante levar em conta o trabalho de paparazzis, qual é o momento em que uma simples foto de “fulano curtindo o dia de verão na praia” se torna uma obsessão? A linha entre saudável e doentio é perigosamente tênue, ainda mais com a facilidade em “descobrir” tudo sobre a vida de alguém, devido à internet.

“A Cadeira Humana” nos faz pensar pelos dois lados, tanto o terror sofrido pela vítima, quanto à necessidade de contato e “amor” do staker. Essa ambiguidade abre os olhos para as camadas envoltas neste tipo de situação.

Um stalker, até certo ponto, só quer ser notado e amado, mesmo que isso envolva machucar a pessoa de interesse. A questão é que este dito “amor” apenas reflete alguma carência ou abuso sofrido pelo próprio stalker que, por algum motivo, reflete isso em uma pessoa que não tem nada a ver com a situação...

Autor: Junji Ito
Editora: Shogakukan
Número de páginas: 30
Classificação: ★★★★★/✰✰✰✰✰

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