sábado, 24 de fevereiro de 2018

[Resenha] Trilogia dos Espinhos #3: Emperor of Thorns

“A dor espalha e cresce e sai para quebrar o que há de bom. O tempo cura todas as feridas, mas muitas vezes somente com o uso da sepultura e, enquanto vivemos, algumas dores vivem conosco, ardendo, fazendo-nos contorcer e virar para escapar delas. E, conforme nos contorcemos, viramos outros homens.” (Página 186)


O que foi prometido, hypado, durante dois livros termina com um desfecho que deixa um gosto amargo na boca - exatamente o gosto que perpetua pela trilogia, justiça divina?

“Prince of Thorns” começa com um menino com um coração sedento por vingança. Algumas das ações de Jorg foram demais para a sua pouca idade? Talvez, porém elas sempre refletiram o que estava dentro de seu coração negro, gritando por libertação: violência.

“A melhor parte de mim ainda está pendurada lá, naqueles espinhos. A vida pode arrancar o que é vital a um homem, surrupiar um pedaço de cada vez, deixando-o de mãos vazias e à míngua ao longo dos anos. Todo homem tem seus espinhos, não os que saem dele, mas os que estão dentro dele, profundos como os ossos. As cicatrizes da roseira-brava me marcam, uma caligrafia de violência, uma mensagem escrita a sangue que requer uma vida para traduzir.” (Página 21)

Em “King of Thorns” temos um Jorg que parece ter desenvolvido uma breve consciência, e tenta por meio dela justificar todos seus atos malignos, fazendo com que o peso da culpa de seu egoísmo diminua. Porém, ao fim deste livro fica claro que não existe honra, apenas vitória e ganância.

“Nós somos carne e sujeira”, eu lhes disse. “Ninguém está limpo e nada pode lavar nossa mancha, nem o sangue dos inocentes, nem o sangue dos cordeiros.” (Página 126)

Já em “Emperor of Thorns”, Jorg parte em uma jornada em meio a alucinações e fantasmas do passado em busca de algo que nem mesmo ele conhece.


“Há verdades que você sabe, mas não diz. Nem para si mesmo, no escuro, onde estamos todos sós. Há lembranças que você vê, mas não vê. Coisas separadas, que se tornaram abstratas e desprovidas de significado. Algumas portas, quando abertas, não podem ser fechadas de novo. Eu sabia disso, mesmo aos nove anos eu sabia.” (Página 102)

Jorg sempre buscou poder. Sua jornada por vingança começa muito cedo e quando ele finalmente está a um passo de alcançar seu objetivo final, se tornar o imperador, ele percebe que precisará de aliados para chegar até lá - e como de costume, cada pessoa que passa por seu caminho torna-se descartável. 

Apesar de ser alguém detestável, ao decorrer da trilogia acabamos nos afeiçoando a Jorg, talvez por ele ser um personagem tão fora do padrão, acabamos por fazer “vista grossa” a todos os crimes cometidos por ele - não que isso signifique que concordemos com seus atos. 

Em “Emperor of Thorns” Jorg nunca esteve tão próximo a seu objetivo - e conhecendo bem as suas jornadas, sabemos que a próxima missão impossível foi definida. Ele precisa viajar até o local que acontecerá a Centena, uma reunião envolvendo todos os grandes líderes dos reinos que acontece a cada quatro anos, para decidir quem será o novo imperador. Por motivos básicos de extremo egoísmo e ganância, o trono do imperador continua vazio, fato que Jorg pretende mudar logo.

“Afinal, obter tudo que você deseja é uma maldição quase tão terrível quanto todos os seus sonhos se tornarem realidade.” (Página 283)

Em meio a ecos do passado de Jorg, temos um presente em que a sombra do Rei Morto se aproxima cada vez mais. Os mortos passaram a se levantar e assombram as estradas, há reuniões de necromantes e demônios, ninguém está a salvo da escuridão. 


“Todos nós carregamos as sementes de nossa própria destruição dentro de nós, todos nós arrastamos nossa história atrás de nós como correntes enferrujadas.” (Página 260)

Por isso, a Centena deste ano é tão importante. O peso da escolha do imperador implicará no destino dos reinos. É o momento para deixar o orgulho de lado e pensar no bem maior.

“Até a pior de nossas lembranças é parte da fundação que nos mantém neste mundo.” (Página 99)

Mark Lawrence costura todas as pontas soltas e entrega um final que responde as perguntas. Porém, não sei dizer se amei ou odiei esse livro. Acho que o problema é justamente na elucidação dos diversos mistérios que envolviam a magia. Não é que eu não tenha achado interessante a forma com que Lawrence explica tudo, porém me pareceu uma saída muito fácil e rápida para um problema colossal.

“É isso que acontece quando você para. Descanse e o mundo o alcançará. Lição para a vida: continue em movimento.” (Página 226)

Este não é o meu livro favorito da trilogia - o primeiro lugar é ocupado por “King of Thorns”. Porém, as batalhas continuam excelentes e terríveis, então não é como se o livro tivesse decaído neste aspecto. Meu maior problema é que Lawrence parece se perder em intermináveis páginas das buscas de um Jorg louco, que segue o chamado de um fantasma, deixando de lado questões mais urgentes.


Devido a essa lentidão, este livro foi o único que eu demorei mais de uma semana para terminar. As páginas se arrastam e quase chegando ao final estava me desesperando, pois Lawrence tinha pouquíssimas páginas para resolver todos os problemas que estavam apenas se amontoando. Não gostei da forma com que ele “magicamente” resolveu a ameaça de uma possível guerra contra os mortos. Ele desperdiçou preciosas páginas na maldita jornada de Jorg...

Porém, nem tudo são trevas. Os momentos retratados no presente sempre surgiam para dar uma brisa de alívio. Então, quando digo que fiquei dividida entre amor e ódio, foi por causa da montanha-russa narrativa, apenas esperando a próxima grande ascensão.

“Nós somos feitos de nossas tristezas, não de alegrias. Elas são a corrente mais profunda, o refrão. A alegria é passageira.” (Página 510)

Se você, assim como eu amou o universo criado por Lawrence e espera que surjam novos livros, não se aflija! Uma personagem da outra série, que se passa no mesmo universo, aparece neste livro e podemos sentir que ainda há muito mais a ser desenvolvido nesse mundo.

Apesar do final bizarro, na ausência de uma definição melhor, esta trilogia não poderia terminar de maneira diferente. Acompanhamos um garoto que sobreviveu aos espinhos em uma jornada ensandecida em busca de vingança e redenção. Em meio a um mar de corpos, moldado através de violência e traição, vemos um garoto crescer, amadurecer e terminar sua jornada.

Assim como essa trilogia, Jorg se tornou eterno em nossos corações sombrios...


“Todos nós temos nossas vidas. Todos nós temos nosso momento, ou dia, ou ano. E Jorg de Ancrath certamente teve o dele, e coube a mim contá-lo.” (Página 523)

Autor: Mark Lawrence
Editora: Darksidebooks
Número de páginas: 532
Classificação: ★★★★/✰✰✰✰✰

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