segunda-feira, 19 de março de 2018

[Resenha] Mar Despedaçado #3: Meia Guerra

“A senhora quer ser misericordiosa. Manter-se na luz. Eu entendo. Admiro. Mas, minha rainha… Só os vitoriosos podem ter misericórdia.” (Página 179)

Apenas meia guerra é travada com espadas...

No último volume da trilogia “Mar Despedaçado”, a guerra está finalmente batendo à nossa porta. Em meio a questões diplomáticas - e uma boa dose de facadas nas costas - somos apresentados a uma nova personagem: a Princesa Skara. 

Mas o que uma princesa tem de tão especial? Skara, tendo apenas 17 anos, perde tudo ao assistir sua família sendo assassinada a mando da ministra do Rei Supremo, Avó Wexen. Sendo a única herdeira do trono, Skara foge em uma embarcação até Gettland, onde busca ajuda da Rainha Dourada. 


Após ser garantida proteção, Skara jura que se aliará ao reino de Gettland na guerra. Agora cabe a uma princesa, recentemente tornada rainha, de apenas 17 anos unificar dois reinos que estão em guerra a anos, e o mais importante: impedir que eles matem uns aos outros.

“E então? Vocês, guerreiros orgulhosos, vão desembainhar suas espadas e derramar seu sangue junto com o meu? Vão se entregar à Mãe Guerra e confiar em sua sorte com as armas? Ou vão ficar aqui, encolhidos nas sombras, provocando-se mutuamente com palavras? (Página 65)

Nunca a frase “o inimigo do meu inimigo é meu amigo” coube tão bem para definir um livro. Com as tropas inimigas escurecendo os campos, os três grandes governantes são obrigados a tomarem medidas extremas e desesperadas, unindo seus exércitos, esquecendo antigas rixas e acima de tudo, contrariando as probabilidades e vencendo essa guerra.

“[...] A vitória é um ótimo sentimento. Mas é sempre fugaz.” (Página 161)

Em segundo plano, também acompanhamos a visão de Koll, o menino que navegou no Vento Sul por Meio Mundo em busca de aliados. Apresentando um papel mais ativo, quando comparado ao livro anterior pelo menos, Koll passa a ser senhor de seu próprio destino, sendo obrigado a escolher entre dever e coração.

“Às vezes o melhor que se pode fazer com relação ao perigo é correr direto para ele.” (Página 264)

Assim como já havia acontecido na transição de Meio Rei para Meio Mundo, os personagens que protagonizaram os volumes anteriores perdem o destaque, sendo “substituídos” por novos protagonistas. Como o primeiro volume contava a história de Yarvi, e no segundo ele ainda tinha um grande destaque, não sentimos muito essa substituição que ficou clara com Thorn. Ela mal aparece ao decorrer da história, dando a impressão que Abercrombie a esqueceu ou não sabia o que fazer com eles. 

“As pessoas não são apenas covardes ou heróis. São as duas coisas e nenhuma das duas, dependendo da situação. Dependendo de quem esteja com elas, de contra quem elas estejam. Dependendo da vida que tiveram. Da morte que esperam.” (Página 315)

Entendo que ela provavelmente deveria estar nas linhas de frente. Porém, ficou faltando abordar melhor as batalhas. Fora que ela literalmente desaparece por umas boas 100 páginas, só para ser mencionada no final do livro… Achei um desperdício de personagem o que fizeram com ela. Thorn passa um livro inteiro se tornando mortal só para não ser “usada” na guerra, pelo menos não com destaque.


Mais uma vez temos uma protagonista feminina forte, só que de uma maneira diferente a Thorn. Skara é uma sobrevivente que deve aprender a comandar um reino, ao mesmo tempo que une dois reinos inimigos, perante uma guerra em que eles estão em extrema desvantagem.

“A vingança é um modo de nos agarrarmos ao que perdemos. É uma cunha enfiada na Última Porta e, através da fresta, podemos vislumbrar os rostos dos mortos. Lutando pela vingança com todo o ser, violamos cada regra para tê-la, mas, quando a agarramos, não há nada ali. Apenas sofrimento.” (Página 325)

Ela começa o livro sendo a princesa mimada e ingênua, que apesar de ter “estudado” as questões políticas de uma guerra, nunca presenciou nenhuma batalha, muito menos teve o destino de tantas pessoas em suas mãos. Ao decorrer da história, ela começa a mostrar toda a força e poder que ela apenas aparentava possuir. Ela esconde seus sentimentos e seu medo em prol de seus guerreiros, e com isso é capaz de reconstruir seu reino dos escombros e reunir milhar de seguidores leais que a seguirão até a morte.

Porém, nem tudo é perfeito. Tive alguns problemas com este livro, nada que fizesse com a experiência de lê-lo fosse menos proveitosa, mas que a prejudicou em certos aspectos. Se você ainda não leu o livro, alguns pontos que eu levantarei a seguir podem ser considerados spoilers. Por isso, recomendo que pare por aqui.

Para os que não se importam com spoilers ou que já leram este livro, sigamos adiante...

Uma das coisas que não em agradou com relação aos outros volumes foi a desconstrução de alguns personagens. Em especial Yarvi. Acho que por acompanharmos ele desde o primeiro livro, e presenciarmos em primeira mão todos os horrores que ele foi obrigado a enfrentar, acabamos por nos apegar mais a ele. 

Pois bem, em “Meia Guerra” ele toma uma série de decisões que eu não sei se aceito ou não. Tivemos momentos em “Meio Rei” que ele foi demonstrado um vislumbre da pessoa que estava se transformando, tudo de maneira muito sutil. 

“Com muita frequência, quando derrubamos uma coisa odiosa, em vez de quebrá-la e começar do zero, nós nos colocamos no lugar dela.” (Página 345)

Em nenhum momento questionamos suas ações em “Meio Rei”, até porque ele estava tentando sobreviver. Em “Meio Mundo”, ele assume um papel diplomático e tenta recrutar aliados, colocando até mesmo seus protegidos em linha de fogo. O que mostra que pelo “bem maior”, que pode se traduzir para o seu benefício, ele não se importaria em sacrificar seus aliados. Brand entra em conflito com Yarvi justamente por isso. Quando Yarvi decide colocar Thorn contra o Quebrador de Espadas e quando ele envenena seu tio em prol do acordo entre Gettland e Vansterland.


Já em “Meia Guerra” ele parece se perder totalmente e antes, onde havia alguém extremamente calculista, surge um cão ensandecido por vingança, que só estará em “paz” novamente ao pulverizar a pedra que se colocou em seu caminho. 

“Eu pensava que o mundo tivesse heróis. Mas o mundo é cheio de monstros, irmã Owd. Talvez o máximo que possamos esperar seja ter o mais terrível deles do nosso lado.” (Página 181)

Acho que o que desagradou tantos leitores foi essa mudança no caráter de Yarvi. Ele luta durante três livros contra um tirano, só para derrubá-lo e tomar seu lugar. Essa sede de poder de Yarvi, que foi desenvolvida de um modo tão implícito, que pareceu somente um eco de loucura e ganância da parte dele.

Outro grande problema foi a antecipação das grandes batalhas que não foi correspondida. Principalmente contra Yilling, que na verdade foi bem anticlimática. Esperávamos uma batalha épica contra o grande vilão que dizimou tanta gente, e o que recebemos foi insatisfatório, breve e sem sentido. Abercrombie aparenta cortar essa batalha por não ter tempo para desenvolver o resto da história, sendo que não há um fechamento digno de uma trilogia tão sensacional.


Outro grande confronto aguardado era contra Avó Wexen e o Rei Supremo… Preciso comentar alguma coisa? O problema é a expectativa do embate, talvez eu seja sedenta demais por sangue, mas realmente… QUE PORRA FOI ESSA ABERCROMBIE?

Independente do desfecho anticlimático, recomendo muito essa trilogia e espero do fundo do meu coração que esta não tenha sido a última vez que vemos o mundo do Mar Despedaçado.

Autor: Joe Abercrombie
Editora: Arqueiro
Número de páginas: 368
Classificação: ★★★★★♥/✰✰✰✰✰

*Livro cedido em parceria pela editora*

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