sexta-feira, 10 de novembro de 2017

[Resenha] A (R)evolução das Mulheres

“Todo mundo acha que, se castrarem um macho, ele vai ficar menos agressivo, mas são as fêmeas que mais mordem. É um instinto básico, de proteger o próprio útero. Isso acontece com todos os animais: as fêmeas da espécie são mais letais do que os machos.” (Página 20)


“A (R)evolução Das Mulheres”, ("The Female of the Species") trata de assuntos pesados, reais e extremamente necessários de serem discutidos - afinal de contas se temas fossem abordados frequentemente - e não tratados como tabu - em um dado momento as pessoas finalmente enfiariam na cabeça que não existe diferença. Este livro mostra que todos, principalmente as mulheres – que são constante alvo de ódio de outras semelhantes – devem se respeitar e se unir.

Alex é uma garota fora do convencional. Sua irmã mais velha foi assassinada e todos olham para ela com olhar de culpa, ou pior, a ignoram completamente por não saber como lidar com a situação.

Ela começa o livro sendo uma fera que acordou da hibernação, mas está presa em uma jaula. Ao mesmo tempo, temos o lado de Alex que ela aparenta, a garota quieta e diferente que nunca teve vontade de se misturar, de agir como uma adolescente. Apesar da morte da irmã e da culpa que ela sente, Alex está amadurecendo, perdendo a inocência e abrindo cada vez mais olhos para a realidade que a cerca.


“Os livros não me ajudaram a encontrar uma palavra para me definir; meu pai se recusou a aceitar o peso disso. Então inventei. Meu nome é vingança.” (Página 153)

Quantas vezes presenciamos cenas de abuso e ficamos quietos? Já pararam para pensar que se mais pessoas denunciassem abusos não existiriam tantas vítimas?

Um dos termos mais recorrentes - ainda mais depois da estréia da série “Os 13 Porquês”, uma adaptação do romance de Jay Asher - é o “slut shamming”. Que se trata de uma das tantas formas de estigma social, em que mulheres que não se encaixam nos padrões de “bela, recatada e do lar” - ou basicamente que fazem, ou não, o que bem querem com os próprios corpos - são humilhadas e julgadas. Inclusive, ou até principalmente, por outras mulheres, manja aquela história de sororidade? Pois então…

Acho que o principal problema é que as pessoas que agridem outras, não percebem que isso assombrará as vítimas para sempre. Ninguém parece enxergar que esses abusos não são “draminhas adolescentes” e que essa história de bullying não é modinha ou algo que acontece para que a vítima chame atenção. Vocês percebem o quão errados estamos? Uma vítima é uma vítima e ponto. Não há necessidade de colocações escrotas como “Ai, quem mandou ela se vestir assim?”, “Nossa, ela também é  burra. Não deveria estar andando sozinha…”. Quer dizer que agora eu tenho que andar de burca e acompanhada de 50 seguranças para que meus atos não sejam julgados pela nossa sociedade puribosta? Entendi… Gostaria de conseguir transcrever em palavras o quão revoltada com esse  tipo de gente merda eu fico.

“Sou um lobo que minha irmã mantinha enjaulado, até que sua mão foi removida. Saí da jaula e estou curiosa, porque acordei de uma solidão letárgica que eu mesma me impus, porque sei que esse não é o meu lugar. Não é seguro me deixar sair da jaula, mas me cutucaram com vara curta. [...] E agora estou acordada, desviando dos caminhos que havia criado para me manter estável. Estou fora da jaula, acordada e com medo de não conseguir voltar para dentro.” (Página 171)


Quantas notícias vemos todos os dias sobre garotas que tiraram a própria vida por causa de uma foto vazada ou um rumor que foi espalhado? O pior disso tudo é a completa ausência de camaradagem entre as próprias mulheres. Porque temos que sempre denegrir a imagem de pessoas que sequer conhecemos?  Gostaria de deixar uma reflexão aqui, que tal começarmos a pensar em uma simples frase antes de falar bosta para outras pessoas: “Será que eu gostaria que alguém falasse isso para mim? Ou melhor, para a minha filha, irmã, mãe, namorada, esposa?” Se você não for um lixo, a resposta sempre será NÃO. Agora, se você se encaixa na parcela de pessoas que não se importa e diria sim, eu nem digo que espero que algo terrível aconteça com você, só que eu realmente espero que você abra os olhos e enxergue a realidade antes que seja tarde demais...

Precisamos parar de julgar as pessoas por seus atos, não cabe a nós julgar ninguém. Cada um sabe de si, do que deseja, sua opção sexual, interesses, hobbies, o caralho que o seja.

Se você se interessa por esse tipo de tema, em março participei de um projeto com outras três mulheres fantásticas, chamado “Semana Girl Power”, onde falamos bastante sobre a opressão e o preconceito sofrido por mulheres. Também demos diversas dicas sobre livros, séries e quadrinhos com personagens femininas fortes, então se vocês quiserem saber mais do projeto é só clicar aqui: #SemanaGirlPower.

Você é mulher? Então deve ter cansado de ouvir frases do tipo: “mulheres são o sexo frágil”, “lugar de mulher é na cozinha e cuidando dos filhos”. Que tipo de neandertal idealizou isso? Foi realizado algum estudo que englobasse todos os grupos, tanto étnicos, quanto minorias e maiorias? Foi elaborada uma média do comportamento populacional estatisticamente relevante (com um desvio padrão menor que 0.005) que confirmasse esse absurdo? Acho que não, não é mesmo?


Essa história de “sexo frágil” é um conceito extremamente irreal que deveria ter sido extinto há séculos, se é que ele em algum momento ele devesse ter nascido. Sinto que vou ficar falando disso para sempre sem ter expressado 5% da minha indignação, então voltemos ao livro…

“A (R)evolução das Mulheres” é um daqueles tipos de livros – jovem adulto, portanto abrange um maior público – que abre nossos olhos, de uma maneira simples, para a forma com que tratamos umas às outras e a forma com que tratamos a nós mesmas.

Quantas vezes algo poderia ter sido evitado se uma vítima tivesse denunciado o abuso? Quantas tragédias poderiam ter sido evitadas se parássemos de nos preocupar com o que os outros acham de nós e simplesmente fizéssemos o certo?

Este livro acaba não sendo sobre um personagem específico, mas sim sobre os ideias de uma pessoa que são passados adiante e marcam os outros para sempre.

"Um símbolo sozinho pode não representar nada, mas se todos se juntam, um símbolo pode significar muito, pode significar a mudança de um país" (“V de vingança” - Alan Moore).

Um dos pontos mais altos aqui é que, em um momento crítico, desavenças são deixadas de lado para que uma mulher ajude a outra. Precisamos primeiramente evoluir - de forma que a sororidade seja natural - para nos revolucionarmos em seguida.


“Eu a vejo na determinação com que a Sara mata aula para apagar paus comigo; nos gritos de protesto que uma caloura dá em vez de só revirar os olhos quando um formando dá um tapa na sua bunda; no “Isso não é legal, cara” do Park, quando um dos seus amigos faz piada de estupro. E ela está aqui, dentro da cabine do banheiro comigo, sua mão por trás de cada escrito na parede, mesmo que seus dedos não tenham segurado a canetinha.” (Página 340)

Vamos lá: ninguém tem direito de ofender ou abusar de ninguém. Este é um conceito simples, batido e extremamente importante, ainda mais visto que ele ainda não foi aderido, porque senão já estaríamos vivendo em um mundo ideal - sei que repeti essa frase pelo menos umas 15 vezes nessa resenha, mas é sempre bom frisar.

Livros como “A (R)evolução das Mulheres” tornam o sonho dessa utopia um passo mais próximo de se tornar realidade, obrigada Mindy McGinnins.

Autora: Mindy McGinnins
Editora: Plataforma 21
Número de páginas: 344
Classificação: ★★★★★♥/✰✰✰✰✰

Nenhum comentário:

Postar um comentário